sexta-feira, 20 de abril de 2012

Será que afundamos de vez?



O ano era 1997 e os espectadores do mundo todo choravam ao descobrir a trágica história do jovem e pobre plebeu e da linda moça rica, cujo amor ia se perder no abismo do oceano junto ao mais mítico navio já construído. O ano era 1997 e as pessoas esperavam pela chegada do milénio, algumas esperançosas de que as coisas pudessem mudar, outras já temendo a chegada do bug que ai devolver a nossa civilização às trevas. O bug não passou de um "logrotipo" e, anos depois, as trevas se tornaram fenômeno de bilheteria do cavaleiro Batman. O mundo entrou no novo milénio cheio de confiança até que as míticas torres nova-iorquinas afundassem de vez e se tornassem a prova concreta de que majestosos navios e edifícios não passam de estruturas projetadas pelo homem à sua dimensão, frágeis construções de ferro e vidro que, assim como seus criadores, têm sua morte inscrita no próprio ato de nascer. Entretanto, tudo mudou e as emoções se tornaram mais frias, antecipadas, monitoradas e twittadas.  Não há mais história de amor impossível entre pobre plebeu e moça rica, mas insonsas adolescentes entediadas querendo se tornar vampiras ou participar de jogos vorazes. Os novos heróis só vivem na fantasia, seja do mundo dos bruxos, ou dos histéricos robôs transformadores de tela em tédio, ou ainda de bilionários e desabusados homens de ferro. E até o diretor de Titanic encontrou seu avatar num filme politicamente correto sobre a salvação da natureza. Os (des)equilíbrios econômicos mudaram. Tio Sam e a velha Europa estão descobrindo que Confúcio sempre esteve adiante enquanto a deusa Atena rasga a toga e pede esmola. Com certeza, nesses últimos 15 anos houve muitos náufragos mais importantes do que o do Titanic, muitas certezas afundaram no oceano da nossa desilusão e incapacidade de seguirmos adiante. Somos cada vez mais tecnologicamente velozes, porém cada vez mais intelectualmente emperrados, dentro de um paradoxo que não parece ter mais saída... O ano era 1997 e os espectadores do mundo todo choravam diante do trágico amor impossível de dois belos adolescentes que queriam mudar o mundo num magnífico barco que, apesar de ter afundado, trouxe esperança. Hoje os mesmos espectadores e as novas gerações podem chorar de novo... discretamente escondidos atrás dos óculos 3D.

Um comentário:

  1. eric,
    adorei o post e as músicas, mas eu quero mesmo é ver aqui os pratos maravilhosos que vc cozinha!

    beijos

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